Transtorno de ansiedade social: quando a interação se torna um desafio

A fobia social, ou transtorno de ansiedade social, é mais do que apenas timidez. Ela afeta profundamente a capacidade de enfrentar situações sociais cotidianas, levando ao isolamento e à evitação de atividades normais. Compreender os sintomas, diferenças e tratamentos pode ajudar a melhorar a qualidade de vida de quem enfrenta esse transtorno.


Por Gabriela Nuernberg, PhD em Psiquiatria.
08/08/2024

Um olhar perdido no horizonte: a solidão e o isolamento sentidos por quem vive com o transtorno de ansiedade social, onde cada interação pode parecer um oceano de incertezas.

O que é o transtorno de ansiedade social?

O transtorno de ansiedade social também é conhecido como fobia social e impacta diretamente a capacidade de interagir socialmente. Isso significa que a pessoa pode enfrentar dificuldades para lidar com situações sociais ou de desempenho, nas quais sente que pode ser julgada ou humilhada pelos outros.

Nesses casos, é comum que o indivíduo que sofre com o transtorno tenha medo de ser julgado ou de ter as suas fraquezas expostas.

É importante reforçar que se sentir ansioso em algumas situações do dia a dia é normal, o problema acontece quando tais sentimentos surgem com muita frequência e, às vezes, sem razão aparente.

Quais são os principais sintomas da fobia social?

Esse transtorno é capaz de gerar vários tipos de sintomas: físicos, emocionais e comportamentais. Confira mais detalhes sobre cada um deles:

Os sinais da fobia social: manifestações físicas, emocionais e comportamentais que refletem o intenso sofrimento enfrentado por quem vive com esse transtorno.
  • Físicos:

  • Suor excessivo;
  • Calor;
  • Músculos tensos;
  • Boca seca;
  • Náusea;
  • Taquicardia;
  • Espasmos;
  • Vermelhidão no rosto;
  • Tontura;
  • Calor.
  • Emocionais:

  • Nervosismo;
  • Medo e ansiedade excessivos;
  • Ataques de pânico.
  • Comportamentais:

  • Fugir de interações sociais;
  • Isolamento.

Quais são as diferenças entre ansiedade social ocasional e o transtorno?

Para conhecer melhor o transtorno de ansiedade social, é preciso entender que todas as pessoas sofrem com ansiedade social, ou seja, é normal se sentir inseguro e preocupado em algumas situações cotidianas.

Em apresentações para um público grande ou em uma festa em que não se conhece quase ninguém, por exemplo, é comum que alguns indivíduos se sintam desconfortáveis.

O que diferencia essa ansiedade social ocasional do transtorno em si é que aqueles que têm fobia social sofrem tanto em situações de interação que podem até mesmo acabar evitando-as.

O diagnóstico e a intervenção levam em consideração os prejuízos na vida da pessoa. Se for o caso de uma pessoa mais tímida e inibida, mas que tem amigos, participa de eventos sociais e consegue estabelecer relações, não há um problema. A timidez se trata apenas de um traço de personalidade.

No entanto, se o indivíduo não consegue encarar situações sociais rotineiras e acaba optando pelo isolamento na maioria das vezes, é preciso analisar o caso com atenção para que não se torne ainda mais grave.

Quais são as consequências do transtorno na vida da pessoa?

As consequências do transtorno são sentidas tanto em âmbito pessoal como profissional, afetando a qualidade de vida como um todo.

No geral, quem enfrenta a doença deixa de participar de eventos sociais, como reuniões, festas e outros tipos de encontros. Sem o tratamento adequado, portanto, pode causar a ruptura de relações amorosas, familiares e de amizade.

Já na carreira, a dificuldade para se relacionar e estar presente em apresentações, festas e reuniões também gera prejuízos enormes, afinal, a pessoa que tem fobia social não consegue executar tarefas que exigem contato com outros profissionais.

Em alguns casos, o transtorno pode até mesmo evoluir para uma depressão devido ao isolamento social e as dificuldades para viver uma vida saudável em condições normais.

O impacto do transtorno de ansiedade social prejudica tanto as relações pessoais quanto a vida profissional, levando ao isolamento e à perda de oportunidades.

Exemplos de situações que desencadeiam a ansiedade social

Quem sofre com fobia social costuma se preocupar bastante que as suas atitudes sejam consideradas inadequadas pelas outras pessoas.

É normal ter medo de que os outros notem a sua ansiedade por meio dos sintomas físicos, como rubor facial, vômitos, transpiração em excesso, entre outras.

Normalmente, as seguintes situações desencadeiam o transtorno de ansiedade social:

  • Falar em público;
  • Comer junto de outras pessoas;
  • Conversar;
  • Conhecer novas pessoas;
  • Apresentar-se em algum tipo de reunião.

Quais são as causas e fatores de risco?

Não há uma única causa para o desenvolvimento do transtorno de ansiedade social. Normalmente, há fatores genéticos e ambientais envolvidos. Vale considerar:

  • Histórico familiar em termos de casos do transtorno em parentes;
  • Presença de características como timidez ou medo de julgamento;
  • Lares com criação muito rígida, falta de apoio e cobranças constantes;
  • Bullying na infância.

É comum que o transtorno comece a se desenvolver na infância e, se não for tratado, seja arrastado pela adolescência até a vida adulta. Quanto antes for diagnosticado, melhor para evitar grandes prejuízos na qualidade de vida.

Como os pais podem ter a suspeita do transtorno em adolescentes?

Pais devem ficar atentos a sinais como a recusa de ir a festas, interagir com colegas ou ir à escola, que podem indicar transtorno de ansiedade social em adolescentes.

É fundamental que os pais prestem atenção em sinais de comportamentos fóbicos no dia-a-dia da adolescente, entre eles:

  • Não querer ir a festas;
  • Recusa em interagir com outros adolescentes;
  • Queixa de dor de barriga no horário da aula.
  • Uso de roupas que cubram demais o corpo, capuz, máscara (herança covid)

A recusa em ir para a escola deve ser bem analisada junto com os professores para entender se há algum outro problema na rotina do adolescente. Caso seja percebida a falta de habilidades sociais, é importante buscar ajuda profissional para desenvolvê-las a fim de evitar problemas maiores.

Como prevenir o transtorno de ansiedade social?

O primeiro nível de prevenção engloba prestar atenção nos filhos de pacientes fóbico-sociais, pois apresentam maiores chances de desenvolver a doença por compartilharem a mesma carga genética.

Além disso, a prevenção também pode ser realizada nas escolas por meio do preparo dos profissionais que ali trabalham. Eles devem ter sensibilidade para identificar quando alguma criança tem comportamentos de isolamento social ou quando é vítima de agressões (sejam estas físicas ou verbais).

Como é o diagnóstico?

O diagnóstico da fobia social toma como base alguns critérios específicos, levando em consideração quando o indivíduo sente ansiedade ou medo com as seguintes características:

  • Intenso e com duração de seis meses ou mais;
  • Está relacionado a uma ou mais situações sociais;
  • Costuma ocorrer quase sempre na mesma situação (ou situações);
  • Está relacionado ao medo de outras pessoas terem uma impressão negativa;
  • Não é proporcional ao perigo real;
  • Faz com que a pessoa evite situações sociais ou suporte-as com extremo desconforto;
  • Gera angústia profunda e/ou prejudica o desempenho em certas atividades.

Quais são os tratamentos para o transtorno?

O tratamento costuma ser composto por profissionais multidisciplinares, além de ser individualizado de acordo com o quadro do paciente. Normalmente, são considerados os seguintes aspectos:

  • Psicoeducação
  • Trata-se de uma intervenção psicológica que tem como objetivo, de forma sistemática e estruturada, ampliar o conhecimento do paciente e de pessoas próximas sobre o transtorno que está sendo tratado.

    Isso é importante para que todos fiquem na mesma página e até mesmo para incentivar a continuidade no tratamento. Pode ser feito por meio de leituras, apresentações didáticas, demonstrações, entre outras ferramentas.

  • Terapia de exposição
  • Tende a ser bastante eficaz, porém, não é um processo fácil, pois exige que o paciente se exponha gradativamente e de forma controlada às situações que desencadeiam a ansiedade.

    A terapia de exposição ajuda na extinção dos sintomas de ansiedade, habituando o paciente aos estímulos e aumentando sua confiança ao enfrentar situações temidas.

    Trata-se de uma técnica em que, de acordo com uma hierarquia, o indivíduo é exposto a diversos estímulos até que o nível de sua ansiedade seja reduzido e, enfim, se torne imperceptível.

    Há variantes da exposição gradual que podem ser aplicadas ao vivo, por meio da imaginação ou com o auxílio da realidade virtual, sendo que o ritmo irá depender das possibilidades do paciente e de como ele irá reagir ao tratamento.

    Nesses casos, também costumam ser utilizadas técnicas de respiração diafragmática para reduzir o nível de ansiedade gerado pela exposição.

    Há algumas explicações sobre a resposta positiva para a terapia de exposição:

    1. Extinção: visto que os estímulos que geram medo não geram consequências negativas, o que faz com que, gradualmente, desaparecem os sintomas de ansiedade;
    2. Habituação: redução da atividade emocional e fisiológica depois do estímulo temido surgir várias vezes, ou seja, o corpo se cansa de permanecer em estado de ansiedade;
    3. Aumento da confiança: a exposição gradual se relaciona com o aumento da autoconfiança do indivíduo no enfrentamento do que causa medo;
    4. Aceitação emocional: a pessoa tolera estados emocionais e sensações somáticas sem fugir ou tentar controlar os mesmos.

    Treinamento de habilidades sociais

    Também pode ser importante que o paciente entenda a necessidade de desenvolver determinadas habilidades sociais para se sentir mais confiante em situações que, a princípio, seriam capazes de gerar ansiedade.

    Para isso, é importante o autoconhecimento para identificar quais são essas habilidades e, assim, entender como as mesmas podem ser aprimoradas tanto na terapia como por meio de cursos e outras ferramentas.

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