Dependência Química: compreendendo o impacto das substâncias no cérebro e comportamento
Um olhar profundo sobre como a dependência química altera o cérebro e o comportamento, interferindo na vida diária. Explore as complexidades do transtorno e a importância de uma abordagem abrangente para o tratamento e prevenção, além dos desafios enfrentados pelos indivíduos no controle do uso de substâncias.
Por Gabriela Nuernberg, PhD em Psiquiatria.
05/03/2018
A dependência química é uma transtorno complexo, ainda mais quando levamos em conta as alterações cerebrais provocadas pelas substâncias. É muito comum os indivíduos sofrerem interferência de outras patologias psiquiátricas simultâneas, como depressão, transtorno bipolar, TDHA, ansiedade, compulsões. Todas estas alterações cerebrais levam a alterações comportamentais, ocorrendo mesmo quando os indivíduos não estão sob efeito agudo da droga. Portanto, temos que ter um olhar amplo e cuidadoso – neuroquímico, comportamental, individual e familiar. É importante observar que a força de vontade não é a única ferramenta para tratar todos estes componentes e começar a prevenção.
Dizemos que um indivíduo apresenta um transtorno pelo uso de substâncias psicoativas (seja por álcool, nicotina, maconha, remédios ou outras drogas) quando o seu uso causa prejuízo clínico ou funcional, ou seja, problemas de saúde, incapacidades ou falhas nas maiores responsabilidades como trabalho, escola, casa. É importante lembrar que muitos usuários minimizam (ou não enxergam) o impacto do uso de substâncias no seu dia-a-dia, constatando que seus problemas têm outras justificativas.
A dependência química (DQ) ou adição refere-se a um estágio mais grave e crônico, caracterizada pela busca da substância(s) psicoativa(s), com o uso compulsivo ou difícil de controlar, mesmo havendo o desejo de parar de consumir a droga. Há uma perda progressiva do autocontrole para resistir a vontade de usar a substância. Esta sensação às vezes é muito forte e se caracteriza como a fissura, podendo ocorrer mesmo após anos sem uso. Esta memória química está ligada a alterações cerebrais persistentes.
A droga afeta diretamente o circuito de recompensa cerebral, também conhecido como “centro do prazer,” que é o mesmo sistema responsável por controlar funções essenciais para a sobrevivência e perpetuação da espécie, como a sensação de prazer e a motivação para atividades vitais, como alimentar-se e ter relações sexuais. Quando esse sistema é superestimulado pelo uso contínuo de substâncias, ocorre uma dessensibilização, o que significa que o cérebro começa a reagir menos aos estímulos naturais que antes proporcionavam satisfação. Esse processo leva a um progressivo desinteresse por prazeres simples e cotidianos, como desfrutar de um jantar em família ou participar de atividades sociais. Com o tempo, o uso da droga deixa de ser uma busca pelo prazer inicial que ela proporcionava e passa a ser uma tentativa de aliviar o desprazer e o mal-estar que sua ausência provoca. Isso resulta em um ciclo vicioso, onde a necessidade de estímulos mais intensos e frequentes cresce, alimentando continuamente a dependência e tornando cada vez mais difícil romper com o uso da substância.
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